segunda-feira, 5 de outubro de 2020

DIA DAQUELES...

Hoje eu estou naqueles dias...

Expressão comumente utilizada pelas mulheres se referindo aos dias de dores e incômodos que o ser encarnado na forma masculina jamais sentirá. Mas estou me apropriando desta expressão, pois realmente me encontro, no momento em que escrevo este singelo opúsculo, em um dia difícil, num “dia daqueles”. Mais especificamente, mentalmente e emocionalmente difícil.

Mas por quê?

Minha saúde (que é o mais importante) vai bem, graças a Deus; as pessoas que amo e prezo estão bem, pelo menos no tanto que podem estar bem em um mundo de provas e expiações; os proventos oriundos do labor profissional não são abundantes, mas tá dando pra pagar as contas e viver razoavelmente bem; no momento presente, não tenho vizinhos incômodos que me perturbem (aleluia!); no campo das relações humanas, estou indo bem, com certo número de afeições verdadeiras e, pelo menos até onde sei, nenhuma inimizade.

Então nada justifica este meu estado d'alma. Pelo menos nada que está “neste mundo”...

Lembro-me, por conseguinte, de um certo texto, que se inicia assim:
“Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes.”(1)

A partir dessa leitura percebo, ou melhor, lembro-me de quem realmente eu sou e como eu verdadeiramente estou: Sou um espírito imortal, imperfeito e estou encarnado, em mais uma das diversas experiências em um corpo físico.

Compreendo firmemente que essas injunções psíquicas são absolutamente normais, pelo menos para quem procura estudar o Espiritismo com a maior profundidade possível. Isso não me livra de sentir essas desagradáveis injunções e não me livra também de nenhum outro problema que seja inerente à minha caminhada reencarnatória. Porém me fornece uma luz, um parâmetro para que eu possa contornar e não me deixar sucumbir. Algumas vezes, apesar deste conhecimento, tenho dificuldades de superar sozinho, mas não tenho vergonha de pedir ajuda, pois a fraternidade é nobre ferramenta de crescimento para quem ajuda e para quem recebe a ajuda.

Que maravilha esse tal de Espiritismo na minha vida!
Não me torna melhor do que ninguém, não me livra dos problemas da vida e nem me deixa tão forte a ponto de ser invulnerável ao sofrimento. Mas com certeza é um guia precioso nas sendas pedregosa das quais muitas vezes temos que encarar, se soubermos aproveitar corretamente as lições que este consolador nos oferece. E ainda que venha a queda (e ela vem), é um apoio inestimável para que levantemos e continuemos nossa caminhada rumo ao inevitável crescimento espiritual.

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(1) A Melancolia, cap. V, em ‘O Evangelho segundo o Espiritismo’.

- Imagem: quadro 'Melancolia' de Edvard Munch.
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